Os primeiros passos do Carletto
Ancelotti começou bem no comando da seleção brasileira. O empate sem gols contra o Equador preocupou, mas o time equatoriano é forte, tanto que está em segundo lugar nas Eliminatórias. Contra o Paraguai, mesmo vencendo por 1 a 0, nossa seleção rendeu mais, principalmente no ataque.
A defesa foi bem nos dois jogos e, contra o Paraguai, Ancelotti experimentou o Beraldo, que sabe jogar na lateral esquerda (para a Copa o nosso técnico deve estar pensando no Militão pela direita). O velho Casemiro anda estabanado e, mesmo assim, sua experiência foi importante.
Bruno Guimarães melhorou 100% contra o Paraguai. Na verdade, o time todo cresceu com a volta do Raphinha e sem as presenças do Richarlison, que não deverá mais ser convocado, e do Gérson, que estará no futebol russo de difícil acompanhamento.
A efetivação do Matheus Cunha no meio ajudou bastante o time do Carletto e, em setembro, contra Chile e Bolívia, espera-se que ponta Martinelli jogue o que sabe. Vini Jr. parece acomodado por ser amigo do chefe, mas foi decisivo contra o Paraguai com um gol de atacante oportunista.
Ancelotti assistirá mais jogos do campeonato brasileiro mesmo sabendo que nas principais equipes os destaques são estrangeiros. Ele gostou do Estevão e, na próxima convocação, chamará o Rodrigo porque Vini Jr. cumprirá suspensão.
Carletto vai convocar Neymar se o nosso único craque estiver jogando bem pelo Santos. O treinador disse depois da vitória na Neo Química Arena que ele pode entrar onde o Matheus Cunha jogou contra o Paraguai.
Boa, Carletto.

Poucos jogadores cantam o hino. Claro, só tem gringo.
Mesmo não sendo novo, o assunto do momento na imprensa esportiva é o número elevado de estrangeiros que jogam no Brasil, o que no fim acaba explicando a pobreza do futebol brasileiro nos últimos anos.
A maneira que eu encontrei para escrever sobre isso foi levantar as fichas técnicas dos jogos da última rodada do Brasileirão e contar os estrangeiros que estiveram em campo no final de semana.
Entre os que começaram jogando e as substituições, relacionei 78, sem Arboleda e Soteldo, contundidos. Em alguns jogos o número foi assustador: Corinthians x Sport (10), Grêmio x Internacional (10), Vasco x Flamengo (9) São Paulo x Santos (8), Atlético x Botafogo (8) e Fortaleza x Palmeiras (12).
O time com mais estrangeiros é o Palmeiras (8). O Vitória não tem, o Mirassol tem um, Ceará e Juventude 2, Cruzeiro e Bahia 3 e Bragantino 4. Os argentinos são em maior número (30), depois 10 uruguaios e 10 paraguaios.
Deu também para constatar que o número de técnicos estrangeiros diminuiu bastante. Hoje, temos só quatro treinadores portugueses e dois argentinos.
Enquanto eu ia relacionando os estrangeiros, entendi perfeitamente o problema que os técnicos da seleção encontram quando procuram jogadores brasileiros que atuam no Brasil. Sobram dedos em uma mão.

Dupla do barulho promete investir na base
O São Paulo tem uma relação interminável de jogadores revelados nas categorias de base, como os repatriados Lucas e Oscar, mais Kaká, Cafu, Fábio Santos, Denilson, Júlio Batista, Casemiro, Rodrigo Caio, Éder Militão, Antony e outras crias de Cotia.
O problema é que o tricolor vende logo as suas revelações e, de vez em quando, contrata figurões, como aconteceu nos anos 40 com Leonidas da Silva, que – é bom lembrar – nasceu em Cotia. Depois, vieram Zizinho, Gérson e Pedro Rocha. Essa política não deu certo com Daniel Alves e James Rodrigues.
O Palmeiras sempre comprou jogadores prontos, desde o Palestra, mas hoje é o grande formador de talentos do nosso futebol. Na sua base surgiram Gabriel Jesus e, recentemente, Endrick, Estêvão, Veron, Menino, Jhon Jhon, Luís Guilherme, Vitor Reis, Naves, Vanderlan, Luighi, Allan, Thalys e Benedetti.
O Corinthians revelou gente importante desde as famosas peneiras do técnico Rato e da chegada do craque Rivellino, dispensado pela base do Palmeiras. Casagrande, Wladimir, Deco, Fagner, Jô, Willian, Marquinhos, Éverton Ribeiro, Guilherme Arana e o zagueiro Gil são os principais “Filhos do Terrão”.
O Flamengo de receita monstruosa anda rasgando dinheiro com jogadores famosos, mas no passado o rubro-negro carioca revelou Zico, Adriano Imperador, Renato Augusto, Paulo Nunes, Adílio, Juan, Júnior, Felipe Melo e outros. Vinícius Jr. e Lucas Paquetá foram os últimos grandes nomes que saíram do Ninho do Urubu de triste memória.
O Santos não investe como deveria nas categorias de base, de onde vieram Neymar, Robinho, Diego, Gabigol, Rodrygo e Lucas Veríssimo. As últimas diretorias fracassaram, como nos tempos de Pelé, quando o time da Vila ganhou muito dinheiro e não soube aproveitar.
Hoje, o Santos tenta se reerguer com o Neymar Jr. e o Neymar Pai. A dupla promete investir pesado no projeto Meninos da Vila.
Será?

Cadê os chiliques do Abel?

Há uns dois anos, a mulher do técnico Abel Ferreira disse que ia vender um carro antigo do marido toda vez que ele recebesse um vermelho. A ameaça soou justa porque na época ele estava passando dos limites e era o tormento do quarto árbitro, que passava o jogo todo ouvindo reclamações malcriadas do português.
Nesse último Santos e Palmeiras, na Vila, me chamou a atenção o fato de o Abel estar contente à beira do gramado, mesmo quando o seu time perdia por 1 a 0. No finzinho do jogo, a câmera mostrou o técnico sorrindo para o quarto árbitro – e o Richard Rios nem tinha marcado o gol da vitória.
Ou Dona Ana desistiu de vender os carros antigos ou eles terminaram. A verdade é que o marido teve uma grande mudança no comportamento. Ele anda até cumprimentando o árbitro e os assistentes no fim do jogo. Parece ter mudado. Tomara.
O Abel também melhorou no trato com a imprensa. As entrevistas depois dos jogos andam mais calmas, sem as falas agressivas do treinador. As férias devem ter feito bem ao português, que – de repente – ficou bonzinho.
Ou então todo esse bom humor vem do fato dele já ter assinado com um time árabe com a exigência, por contrato, de uma porção de carros antigos.
Confesso que senti vergonha

Meu neto Benjamin mora com os pais em Amsterdã. Tem 13 anos e é volante titular no Sub-14 da cidade. Nesta quinta-feira, depois da escola pela manhã e de treinar futebol à tarde, ele se preparou para ver o jogo do Brasil, que lá começou às 22 horas.
No intervalo, meu filho mandou uma mensagem dizendo que o Benjamin tinha comentado de não ter tido a sorte de ver uma boa seleção brasileira. E é verdade. Desde quando começou a se interessar, entre as Copas de 2018 e 2022, ele sempre se decepcionou.
Eu passei o segundo tempo inteiro torcendo para que o neto não perguntasse nada. Eu não saberia explicar o motivo de um futebol tão ruim e que só agradou ao Luis Roberto, narrador da TV Globo.
Tomara ele tenha desistido quando o Vinícius Jr. perdeu o pênalti. Isso é normal, até o Pelé perdeu. O problema foi a displicência com que o “melhor do mundo” correu para a bola. O Vini criou algumas boas jogadas, mas ele fala demais, é uma mistura de Gabigol com Hulk.
Quando o neto me perguntar o que eu achei da seleção eu não posso mentir. Tudo bem que a Venezuela não é mais tão ruim como há 30 ou 40 anos, hoje o time do Maduro tem Savarino, Martinez e o Soteldo, que não jogou. Mas continua sendo um futebol bem inferior, mesmo que a gente não tenha laterais, volante e quem crie alguma boa jogada.
Pra piorar – vou dizer ao neto – Dorival Jr. escala mal e substitui pior ainda. Não dá pra entender como o Brasil possa ter terminado o jogo com o cansado Gérson de volante, com dois pontas na esquerda (Vini e Martinelli), dois pontas na direita (Luiz Henrique e Estêvão) e Paquetá de centroavante. O único que estava bem, Raphinha, ficou perdido nessa confusão toda.
Ainda bem que o neto torce pelo Palmeiras e está acostumado a ganhar títulos. O que ele não deve entender é a ausência constante de palmeirenses na seleção, mesmo que eles façam parte de um time tão vencedor.
E o talento do jogador brasileiro, ó.

Se eu fosse o Dorival Júnior convocaria uma coletiva e imitaria o Chico Anysio.
Quem analisar com cuidado trabalho do Dorival chegará a conclusão de que ele não é o culpado pelos fracassos da seleção. Eu não gosto dele, acho o Dorival um técnico sem sal, sem personalidade, mas não dá para condená-lo por um crime que ele não cometeu.
Faltam jogadores com talento e aí nem o Pep Guardiola daria jeito.
Nós já perdemos jogos com os dois Ronaldos, Kaká, Rivaldo e Roberto Carlos, todos juntos. Imaginem o Dorival com Danilo, Arana, Bruno Guimarães, Paquetá e o Vinícius Júnior que só joga no Real Madrid.
Perdemos duas Copas nos anos 80 com Sócrates, Falcão, Zico e Careca, comandados pelo badalado Telê Santana. Imaginem agora o Dorival dependendo desse monte de jogadores apenas bons jogadores.
Também falta comando na seleção. Voltando no tempo, no final dos anos 50 o técnico Feola seguia os conselhos do Dr. Paulo Machado de Carvalho, empresário bem sucedido que só estava ali atrás de conquistas pessoais. Imaginem hoje o Dorival seguindo as orientações do presidente da CBF, o Ednaldo Rodrigues que ninguém sabe de onde veio e a que veio.
Peço licença ao Renato Russo: Que país é este?

Em um país onde a Suzane von Richthofen presta concurso para trabalhar no Tribunal de Justiça, isso mesmo, Justiça, o meu amigo Tim Teixeira levou o neto ao Couto Pereira, em Curitiba, porque o Rafael queria ver o Vinícius Júnior com a camisa do Brasil. Ele gostou de ter visto de perto o jogador famoso do Real Madrid, mas não se deliciou com nenhuma jogada bonita do astro indicado ao prêmio de melhor do mundo.
Em um país onde os juristas discutem se a Suzana pode tomar posse no Tribunal de Justiça antes de vencer a pena de 39 anos por ter participado da morte dos pais, foi bom o amigo Tim não ter levado o neto no segundo jogo da seleção, em Assunção. O Brasil perdeu e o Vini Jr.- de novo – não acertou nenhum drible em cima do marcador paraguaio.
Em um país onde aconteceu a premiação da Miss Rio de Janeiro como a vagina mais bonita do Brasil, isso mesmo vagina, todo mundo torceu para que o Dorival Júnior escalasse o Endrick contra o Paraguai. Afinal, o ex-palmeirense, fã do Bobby Charlton, isso Bobby Charlton, sempre marcou gols quando foi colocado em campo pela seleção. O que se viu? Nada. O Endrick não pegou na bola e acabou substituído no intervalo.
Em um país onde o concurso da vagina teve 5 mil inscrições pela internet e onde 110 mil pessoas participaram da votação on-line, ao preço de R$ 15 reais por acesso, eu encerro o meu texto em que pretendia escrever sobre a seleção. Por quê encerro? Porque acabo de ler que no ano que vem haverá o concurso do ânus feminino mais formoso do Brasil. Eu desisto.
Desisto também porque fiquei sabendo que o Renato Russo admitiu ter plagiado “I Don’t Care, da banda Ramones, quando compôs a sua icônica música “Que País é Este”.
UOL, ajuda a gente

Por mais que esteja escrito depois de suas colunas “este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL”, acho que empresa deveria tomar alguma providência em relação à sua colunista Milly Lacombe.
Não vou discutir se ela tem ou não razão ao afirmar que a nossa seleção segue num processo de desencanto. O problema é que ela escreveu que foi jantar na casa de amigos, todos apaixonados por futebol, e ninguém lembrou de ligar a televisão no jogo Brasil e México.
Se a Milly escreve todos os dias sobre futebol (ou pelo menos deveria), por que não estava assistindo ao jogo da Seleção?
Pode ter gravado? Claro. E deve ter acontecido isso porque ela escreveu que a seleção jogou um futebol sem graça e sem personalidade. Pior ainda se ela não viu e se baseou no universo pequeno do seu jantar.
No mesmo dia, Casagrande disparou na sua coluna: “Endrick e Vini Jr. estão fazendo com que a torcida volte a assistir a seleção”.
Quem lê as duas colunas não entende o que está acontecendo. Aí já não é mais questão de refletir ou não a opinião do UOL. É irresponsabilidade da colunista, que não tem um bom passado no mundo do futebol.
Endrick, a nossa maior promessa, jogador agora do Real Madrid, marcou o seu terceiro gol decisivo na seleção, recebendo um passe do Vini Jr., prestes a ser eleito o melhor do mundo. Se essas justificativas não servirem para acreditar na seleção, então eu também desisto.
Uma besteira atrás da outra

Estou usando a tal foto que nunca sai nos jornais do dia seguinte para comentar o absurdo que o Corinthians fez no jogo contra o Fortaleza. Os novos modelos das camisas da Nike foram lançados há alguns dias e o uniforme II entrou em campo sem ninguém entender o motivo de os anunciantes estarem escondidos.
A camisa é toda preta, para justificar a campanha “Nossa história é uma página em preto” (slogan bem fraquinho) e para prestigiar as promoções antirracistas que serão apoiadas durante o ano. A ideia não é genial, mas passa. O que eu não entendo é ninguém ter percebido em tantos eventos de lançamento que os anunciantes não apareceriam.
Nas costas, o nome do jogador é branco, bonito, e o número de cada um, também branco e vistoso, com um belo lay-out. Mas se a VaideBet paga R$ 120 milhões por temporada, como o Corinthians pode colocar o anunciante master escondido na camisa?
A explicação da Nike é que se trata de uma tecnologia especial em que os logotipos e símbolos se destacam sob certas condições de luz.
Eu li que VaideBet, BMG, Ezze Seguros, Ale, Konami, UniCesumar e Totvs iam aparecer brilhando com o uso de flash. Na hora eu não entendi porque máquina fotográfica com flash nem se usa mais, mas achei melhor esperar o jogo com o Fortaleza pra saber se os logotipos iam se destacar.
Até parece que o Corinthians está nadando em dinheiro. Que o distintivo não apareça eu aceito porque o clube faz com ele o que quiser, mas esconder os anunciantes eu achei uma burrice maior do que o burro.
O menino extrapolou. Ele é diferente.

Sou um privilegiado por ter vivido este momento mágico. Recentemente, Endrick marcou gols decisivos para a Seleção no Estádio de Wembley e no Santiago Bernabeu. No Allianz Parque, no seu quintal, ele continuou com gols e assistências fundamentais para que o Palmeiras conquistasse o tricampeonato paulista.
Pelé também começou assim, bem novinho e com gols decisivos na Copa de 58, contra País de Gales e Suécia. Nenhum outro se consagrou desse jeito. De lá pra cá, Maradona, Messi, Cristiano Ronaldo, nossos dois Ronaldos, Cruyff, Zidane e outros foram conquistando as suas coroas aos poucos. Nunca em tão pouco tempo.
Zico, Sócrates, Falcão, Neymar e tantos craques brasileiros não começaram marcando gols decisivos em templos sagrados do futebol mundial. E nenhum deles teve a ideia de pegar um tapete com o distintivo do clube para criar uma imagem que percorreu o mundo.
Nos meus 50 anos como jornalista esportivo eu vivi as expectativas em relação a Juary, Enéas, Denner e Robinho como futuros Pelés. Não ouso afirmar que o Endrick será um Pelé, mas se Deus ajudá-lo a não se machucar e a namorada não atrapalhar, o filho do faxineiro Douglas fará uma limpeza na história do futebol mundial.